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Capítulo 01: quando as primeiras denúncias vieram à tona

  • Foto do escritor: Rafael Miranda
    Rafael Miranda
  • 8 de ago.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 17 de ago.

Os crimes sexuais do pastor Saulo Inácio de Sousa ocorreram nos últimos 20 anos, conforme o relato das vítimas apresentados nesta reportagem investigativa. Depois de sua prisão pelo crime de estupro de vulnerável contra as crianças Débora* e Estér*(nomes fictícios), caso retratado em detalhes neste capítulo, novas vítimas surgiram e denúnciaram o pastor em entrevistas inéditas ao Jornal Primeira Página (capítulo 03).


Hoje com 60 anos de idade, as denúncias contra o pastor Saulo vieram à tona pela primeira vez em março de 2018, quando uma orientadora pedagógica de uma escola da rede municipal de ensino de Palmas identificou sinais de abusos nas meninas Débora* e Estér*. (confira a entrevista com a orientadora neste capítulo, logo abaixo).


Dentro dessa unidade escolar, os efeitos da violência sexual que as crianças sofreram haviam se manifestado: medo, vergonha, isolamento e automutilação. Uma das crianças procurou a coordenação da escola, e relatou o ocorrido. O Conselho Tutelar de Palmas foi acionado, os familiares foram chamados na escola e a Polícia Civil entrou em cena, dando início as investigações.


Este capítulo relata o início do contato das vítimas e seus familiares com o pastor Saulo Inácio e a forma como ocorreram os abusos sexuais entre os anos de 2016 e 2017 contra Débora" e Ester*, a partir de depoimentos e informações contidas tanto no inquérito policial, quanto no processo judicial que levou à prisão de Saulo Inácio.


O pastor amigo da família – os abusos contra Débora* e Estér*


Os familiares e as duas vítimas conheceram Saulo Inácio quando passaram a frequentar a igreja O Brasil Para Cristo (OBPC), logo que a família, vinda de um estado da região Nordeste do país, chegou em Palmas-TO no final do ano de 2013.


Nessa época, a congregação, chefiada por Saulo, funcionava em sua própria casa na região norte de Palmas, junto com sua esposa, a pastora Leda Maria Vieira – que faleceu de câncer em 2022. (Detalhes sobre a história pessoal do pastor Saulo Inácio constam no capítulo 04 dessa reportagem).


Recém chegados na capital, os familiares de Débora* e Estér*, de origem humilde e com poucas condições financeiras, foram acolhidos pelo pastor Saulo e sua esposa - que os ajudaram financeiramente, além de auxiliar o pai de uma dessas vítimas na procura por emprego em Palmas.


Depois, no início do ano de 2016, a igreja se instalou em uma tenda na quadra 904 Sul, em um terreno de 2.857 m² doado pela Prefeitura de Palmas. O pastor Saulo também se mudou para uma residência nesta mesma quadra, local que virou ponto de encontro com as famílias e demais membros da igreja aos finais de semana.


Foi nesta casa, com frequentes churrascos, almoços e banhos de piscina que parte dos abusos sexuais contra as meninas Débora* e Estér* ocorreram.


Vítimas relataram abusos durante julgamento do pastor Saulo


A primeira das meninas a ser abusada pelo pastor Saulo Inácio foi Estér*, quando ela tinha 10 anos de idade em 2016. A menina relatou ter sido vítima de atos libidinosos por Saulo durante as confraternizações na casa do pastor.


Estér*, que não sabia nadar, recebeu o convite do pastor Saulo para entrar na piscina, alegando ele que iria ensinar a garota. Enquanto segurava a criança na água, Saulo tocava em seus seios e vagina – situação que teria ocorrido ao menos três vezes.


Os abusos contra Estér* também ocorreram dentro da tenda onde funcionava a igreja O Brasil Para Cristo, na quadra 904 Sul. Um desses episódios ocorreu dentro de um carro usado por Saulo para buscar membros da congregação que moravam longe, um veículo Volkswagen modelo Kombi. Dentro desse carrro, o pastor tocava nas partes íntimas da vítima.


"Às vezes eu me sentia magoada porque eu estava deixando ele fazer isso comigo”


Os abusos relatados acima ocorreram na mesma época com a menina Débora*, com menos de cinco meses de diferença de idade da sua familiar Estér*, a qual foi abusada sexualmente em contextos semelhantes - tanto na própria igreja quanto na casa do pastor.


Um dos episódios mais agressivos contra Débora*, com 09 anos, ocorreu na casa do pastor, quando ele tocou em sua vagina no sofá da sala. Neste dia, Saulo tinha se oferecido a mãe da menina, que a levaria para emitir um documento pessoal - mas acabou ficando com a criança em sua casa.


Em outros episódios dos abusos, Débora* relatou que Saulo, dentro da igreja, aproveitava-se de momentos em que ia abraçar a vítima para também tocar em seus seios, alguns deles, apertando seu mamilo.


Um celular gravando crianças dentro do banheiro


Durante uma das confraternizações na casa do pastor, no ano de 2017, um celular foi encontrado dentro no banheiro, ligado e gravando as crianças trocando de roupa que estavam na casa de Saulo Inácio.


As duas meninas apresentaram esse relato. O celular pertencia ao pastor Saulo Inácio e foi identificado por Débora*, que comentou sobre o aparelho com Estér*, quando ambas estavam dentro do banheiro.


Estér*, com 11 anos na época, apagou o vídeo e entregou o celular para um familiar seu, também menor de idade e que usou o banheiro antes delas. O menino, em seguida, levou o celular até a esposa de Saulo Inácio, Leda Maria Vieira.


Neste dia, nenhum questionamento ao pastor foi feito a respeito do celular encontrado no banheiro da sua casa, nem pelos familiares das crianças presentes na celebração, nem mesmo por outras famílias que estavam no local.


Denúncias partiram da escola em que Débora* e Ester* estudavam


Estér* foi a vítima que tempos depois dos abusos passou a automutilar os seus braços, provocando ferimentos na pele na região do cotovelo e do punho. Em 2018, dois anos após os abusos sexuais iniciados em 2016, o comportamento e as mutilações de Estér* foram notados na escola em que ela estudava. O nome da instituição não é mencionado para preservar a identidade da vítima.


O Jornal Primeira Página entrevistou essa orientadora em junho deste ano, 2025, que pediu para não ter seu nome mencionado na reportagem. A orientadora narrou como conseguiu conversar com Estér* e Débora*.


"Ela [Estér*] queria muito conversar comigo. Todos os dias ela ia na orientação pedagógica e perguntava se eu podia conversar com ela. [...] sentava lá, não queria ir para a sala de aula. Ficava apertando as mãos, embolava os pezinhos, apertava os pezinhos. Todos os sinais de medo. A expressão dela era de medo e nervosismo", contou.


Neste processo da escuta ativa, a orientadora relatou que demorou para conseguir conversar com a criança. Nessa fase, houve muito choro por parte dela e foi necessário paciência até fazer com que a menina se sentisse à vontade para se abrir.


"Ela ficava no cantinho da minha sala. Eu a deixava lá, dava um chá para ela beber e perguntava se estava tudo bem. Ela não queria ir para a sala de aula de jeito nenhum. Não tinha vontade de estudar. Muito desânimo. Até que ela começou a sentir segurança e foi quando levei ela para uma sala e comecei a fazer a escuta ativa dela".


Durante essas conversas, a orientadora notou os cortes nos braços de "Estér"*. "Aí que eu peguei a mãozinha dela, que ela só vivia com a mãozinha embolando. Aí eu abri, assim, na minha mesa, quando eu vi o bracinho dela, os punhos. Todos cortados, uma coisa muito forte. Eu perguntei por que ela fazia aquilo. Aí ela falou que tinha uma coisa muito ruim dentro dela. E perguntei o que aconteceu. Aí ela começou a se abrir."


Estér* relatou para a orientadora tudo o que aconteceu com ela e Débora* e os abusos cometidos pelo pastor Saulo Inácio. Experiente na profissão, a orientadora chamou Débora*, e fez a mesma escuta ativa com a criança, e todos os relatos se confirmaram.


A direção da unidade escolar foi acionada, e um ofício foi encaminhado ao Conselho Tutelar de Palmas. Ao mesmo tempo, os pais foram chamados na escola e tomaram conhecimento pela primeira vez, conforme as investigações, dos abusos cometidos por Saulo Inácio.


O início das investigações contra o pastor Saulo Inácio


A partir do recebimento da denúncia da escola municipal em Palmas, o Conselho Tutelar encaminhou os relatos acima à Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA - Palmas), que instaurou inquérito policial no dia 23 de março de 2018.


Nesta fase de diligências e coleta de provas, foram realizados exames no Instituto Médico Legal, onde as crianças foram ouvidas por psicólogas que atuam na Polícia Civil, além de depoimentos dos profissionais da escola onde as meninas estudavam, do próprio Saulo Inácio e sua falecida esposa, Leda Maria.


Com a constatação dos abusos por meio dos laudos técnicos, no dia 11 de dezembro de 2018, o relatório final da DPCA de Palmas foi concluído com o pedido de indiciamento do pastor Saulo Inácio de Sousa por estupro de vulnerável, tipificado no artigo 127–A do Código Penal.


O Ministério Público do Tocantins recebeu a relatório e apresentou a denúncia à Justiça no dia 19 de dezembro do mesmo ano. No ano seguinte, no dia 29 de março de 2019, a Justiça aceitou o pedido e a fase processual teve início, com Saulo Inácio tornando-se réu por estupro de vulnerável contra as meninas Estér* e  Débora*.


Desde a instauração do inquérito policial em março de 2018, até a efetivação da prisão de Saulo Inácio, ocorrida no dia 16 de maio de 2025, transcorreram-se 2.611 dias. Nesse intervalo de tempo, Saulo, réu na Justiça, foi embora para os Estados Unidos, onde moram parte de seus familiares.


No próximo capítulo, a condenação de Saulo Inácio na 2ª Vara Criminal de Palmas, os pedidos de revisão em instâncias superiores e, por fim, sua prisão pela Polícia Federal em Palmas no mês de maio de 2025.



 
 
 

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Denúncias de crimes sexuais contra crianças podem ser feitas na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA - Palmas)

Telefone(s): (63) 3218-6830 (fixo e whatsApp)
Email: dpca@ssp.to;gov.br
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